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Um Sarney para alemão não ler

Editor
que usou bolsa de tradução do Brasil pensa em destruir edição do livro
‘Saraminda’ 
SILVIO
ESSINGER ( OGLOBO)
RIO – A
editora Königshausen & Neumann resolveu não distribuir “Saraminda”, do
ex-presidente José Sarney, depois que o consulado do Brasil em Frankfurt deixou
de cumprir sua parte do contrato, de comprar 500 exemplares da obra.
Beneficiado pelo programa de traduções da Biblioteca Nacional, que, segundo seu
coordenador, Fabio Lima, investe em média US$ 8 mil em cada tradução,
“Saraminda” tinha lançamento previsto na Feira do Livro de Frankfurt, encerrada
ontem.
— Assumo
o prejuízo de ter uma publicação para ninguém ler, mas prefiro desistir porque
me senti iludido pelo consulado — disse ao GLOBO o editor Thomas Neumann, que
admitiu a possibilidade de destruir os volumes já impressos.
Até
ontem, Fabio Lima não havia tomado conhecimento da suspensão do projeto. A BN
disse que espera a confirmação da decisão para tentar receber de volta a verba
já transferida. O tradutor Markus Sahr recebeu os seus honorários diretamente
do editor alemão.
Coproprietário
da editora especializada em livros científicos, principalmente de filosofia,
Neumann explicou que só incluiu no seu catálogo um livro de ficção, ainda mais
de um autor “conhecido como político, mas não como escritor, pelo menos na
Europa”, por insistência do consulado, na época (e até março deste ano)
chefiado por Cezar Amaral. O financiamento da BN só é possível quando uma
editora estrangeira solicita a bolsa de tradução e se compromete a publicar a
obra. O consulado, através da então chefe do setor cultural, Rita Rios Bonfim,
convenceu Thomas Neumann a editar “Saraminda”.
— Aceitei
porque o consulado garantiu comprar um número determinado de exemplares e,
confesso, porque não sabia direito quem era Sarney. Hoje sei que o meu erro foi
grande. Depois de ler muito sobre ele na internet, sobre seu papel em governos
passados, fiquei com a impressão de que é uma espécie de Berlusconi do Brasil —
disse o editor.
Presentes
oficiais
Desde
junho no posto, o cônsul Marcelo Jardim reagiu com surpresa à informação de
promessa de compra, dizendo que “a história é contraditória”.
— O
consulado não tem biblioteca, e por que compraria livros?
Além de
ficar irritado pelo não cumprimento do contrato, Neumann passou a temer colar à
sua editora uma imagem negativa ao publicar um livro cuja tradução fora
promovida por critérios de amizade e de “influência de poderosos”.
De Rita,
sua interlocutora no processo, ele recebeu a informação de que os livros seriam
usados como presentes oficiais do consulado. Na negociação do livro de Sarney,
Rita conseguiu “vender” também o seu próprio livro “Poemas e pedras — a relação
entre poesia e arquitetura partindo de Rodin e Rilke”. O ensaio recebeu a bolsa
da BN e está na agenda da Königshausen & Neumann para lançamento em 2014.
“Saraminda”
foi lançado no Brasil no ano 2000 e já foi traduzido para o romeno, espanhol,
francês e húngaro.

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