A permanência do ministro Carlos Lupi à frente da pasta da Previdência tornou-se praticamente insustentável. O estopim foi o escândalo dos descontos irregulares aplicados em aposentadorias do INSS, um esquema que, segundo apuração da Polícia Federal e da Controladoria-Geral da União, teve início ainda em 2019, no primeiro ano da gestão do então presidente Jair Bolsonaro (PL). O mais revelador, porém, é que os principais nomes apontados como operadores do esquema são ligados ao bolsonarismo, não ao governo Lula. Apesar disso, recai sobre Lupi a imagem de omisso, acusado de não ter agido de forma eficaz nem mesmo após os alertas oficiais.
Enquanto auxiliares do Planalto já tratam como certa a saída do ministro, Lupi teria manifestado desconforto com a forma como foi conduzida a substituição no comando do INSS, sem sua participação direta. A nomeação do procurador federal Gilberto Waller Júnior, com perfil de “xerife”, reforçou a percepção interna de que sua gestão perdeu prestígio. Nos bastidores, há quem afirme que o presidente Lula deseja resolver a situação antes de iniciar sua viagem oficial à Rússia, e já acionou a ministra das Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann, para negociar a transição com o PDT.
A CGU relatou ao menos seis alertas ignorados pelo INSS apenas em 2024, apontando uma negligência administrativa que comprometeu a imagem de Lupi. Mesmo sem provas diretas de envolvimento, a falta de resposta institucional gerou desgaste suficiente para tornar sua manutenção no cargo praticamente inviável.
Dentro do próprio PDT, o afastamento de Lupi já é considerado um passo inevitável. O presidente licenciado do partido, que também é alvo de críticas internas por manter figuras herdadas da gestão anterior, foi aconselhado por aliados a reassumir o comando partidário e focar na rearticulação da legenda como força de sustentação do governo.
Há uma costura em andamento para manter o Ministério da Previdência sob o controle do PDT. Os nomes do deputado André Figueiredo (CE) e do secretário-executivo Wolney Queiroz (PE) surgem como possíveis substitutos. Queiroz, inclusive, é citado por fontes do Planalto como o mais cotado.
Ainda assim, a saída de Lupi deve acirrar os conflitos internos da legenda. Enquanto uma ala majoritária defende a permanência na base governista, o grupo liderado por Ciro Gomes, que rompeu com Lula no segundo turno de 2022 e tem mantido posição crítica, vê no episódio a chance de um rompimento definitivo com o Planalto.
Aliado de Lupi fala em ruptura entre PDT e governo Lula
O desgaste da relação entre o Planalto e o PDT não se limita à figura de Lupi. Declarações recentes do líder do partido na Câmara, deputado Mário Heringer, indicam que a eventual saída do ministro pode resultar na retirada da legenda da base aliada no Congresso Nacional. Segundo ele, a permanência do PDT no governo estaria diretamente condicionada à continuidade de Lupi no ministério.
Embora tenha classificado a decisão como pessoal, Heringer deixou claro que a saída do ministro fragilizaria a posição do partido no Executivo. A avaliação de bastidores é que a relação já vinha se deteriorando, com insatisfações acumuladas em relação à ocupação de cargos e à condução de políticas públicas na área previdenciária. O clima entre as lideranças é de tensão, com possibilidade real de ruptura. (Fórum)
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