Carlos Madeiro, Fabrício Venâncio, Leandro Moraes e Nolle Marques
Do UOL, em São Luís
Capital
do Maranhão, São Luís possui diversas peculiaridades. Do reggae, que
domina as baladas locais, ao famoso guaraná Jesus, a cidade tem a fama
de “ilha rebelde” e se destaca nacionalmente pelo alto índice de
abstenção nas eleições. Na votação passada, em 2010, o índice foi o
maior entre as capitais brasileiras. Para os ludovicenses, falta crédito
aos políticos locais.
Os números do TSE
(Tribunal Superior Eleitoral) não deixam dúvida sobre a falta de
interesse de parte significativa do eleitorado. Em 2008, na última
eleição municipal, dos 636 mil eleitores, 115 mil deixaram de votar
(18%). Em 2010, o número ainda foi maior: 163 mil não foram às urnas, o
que representou 24,5% do eleitorado, maior índice entre as capitais
brasileiras.
A abstenção em São Luís é algo que se repete ao longo
dos anos e já virou motivo de preocupação. Segundo o TRE-MA (Tribunal
Regional Eleitoral do Maranhão), campanhas de conscientização, com
panfletos e jingles, foram lançados orientando sobre a importância do
voto e conclamando pela presença dos eleitores no dia 7 de outubro.
O UOL visitou São Luís dentro do projeto UOL pelo Brasil –série de reportagens multimídia que percorre municípios em todos os Estados da federação durante a campanha eleitoral.
Para entender a alma ludovicense e tentar achar explicações para o desinteresse da população com a votação, o UOL foi a festas de reggae, que são a essência cultural da cidade.
Muitos
são os argumentos usados pelos regueiros –que lotam os bares e
clubes– para o descrédito nos políticos maranhenses. “Hoje em dia, a
política está sem confiança porque os políticos prometem e não cumprem. E
hoje em dia ninguém é mais burro, e a confiança foi embora”, afirma o
DJ Call Lewis.
Com
a cultura musical forte, o reggae se tornou uma das vozes principais da
população pobre. “O reggae canta reivindicações da periferia, falando
da necessidade do povo. Porque periferia não é só pobreza. Os políticos
precisam ter mais consciência. Na hora da eleição, eles se veem ao lado
para conquistar o voto. Depois esquecem”, diz Márcia Magalhães,
dona-de-casa e frequentadora assídua do bar do Cidinho, um dos
principais pontos de encontro de regueiros da cidade.
Parte da
abstenção também poderia ser explicada pela “rebeldia” da cidade, que é
expressada nas letras e ritmo das canções. “O reggae é praticamente a
alma da cidade. A nossa ilha tem o pseudônimo de ilha rebelde, e acho
que o reggae é o que mais casa com isso, porque a ilha que não se rende.
O povo maranhense qye mora na capital tem uma consciência política que é
muito forte”, conta o pesquisador e produtor cultural Amsterdã Silva
Botelho.
Os políticos sabem que São Luís tem o reggae na alma, e
os jingles de campanha são embalados pelo ritmo. Não é difícil encontrar
um candidato que fez letras ao som do reggae para tentar chegar à
população.
“Todos os candidatos usam o reggae, seja num simples
jingle, para que a mensagem absorvida, ou de forma mais direta. Mas
temos alguns políticos ligados diretos ao reggae. E o regueiro por se
identificar com isso para representar. Desde o vereador ao prefeito”,
completa Botelho.
A
política em São Luís possui também suas características marcantes. Uma
delas é a influência da família Sarney, que tem a governadora Roseana
(PMDB). A família também controla o maior sistema de comunicação, o
grupo Mirante.
A disputa pela Prefeitura de São Luís envolve oito
candidatos. Em mais uma peculiaridade política, a capital conseguiu unir
os rivais DEM e PT. Os petistas lançaram o nome de Washington Luís.
Sim, a cultura faz com que as pessoas percam o interesse na política
Não, o povo não vota pela qualidade e propostas dos candidatos locais
Não conheço a cidade e não posso opinar
A aliança
não se justificaria não fosse pela articulação do PMDB, da família
Sarney, que reuniu na chapa nada menos que 13 partidos. Por conta das
rusgas nacionais, a aliança em São Luís não se repete em outra capital
do Brasil e precisou passar pela aprovação da Executiva Nacional do DEM.
Segundo
o partido, a aliança se justificou pelo fato de a sigla apoiar o
governo de Roseana Sarney (que, antes de ser do PMDB, era filiada ao
PFL, que veio a se transformar no DEM). Em contrapartida, o DEM informou
que recebeu a garantia do apoio do governo estadual em 29 municípios.
Apesar
da grande união dos partidos e do maior tempo eleitoral, o candidato do
governo não emplacou e corre sério risco de ficar fora do segundo
turno. Segundo última pesquisa Ibope, Washington é apenas o terceiro
colocado, com 22% das intenções de voto. O líder é o atual prefeito João Castelo (PSDB), com 29%, contra 26% de Edivaldo Holanda Júnior (PTC).
Não
é comum capas de jornais darem espaço para artigos. Ainda mais aos
domingos, dia de venda gorda. Mas o Estado do Maranhão foge à regra e
publica a coluna do Sarney. Dono do sistema Mirante, o senador pelo
Amapá usa o espaço semanalmente para dar o seu recado.
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