Agência
Brasil
As
dificuldades para concluir a formação básica nas comunidades quilombolas na
área rural de Codó, no interior no Maranhão, são muitas. Deixar o ensino médio
e ingressar no ensino superior, é mais difícil ainda. O Exame Nacional do
Ensino Médio (Enem) e as cotas sociais e raciais facilitam o acesso à
universidade, mas, para o jovem quilombola, mais uma barreira surge quando vai
para a cidade estudar: faltam condições financeiras para se manter.
Marcello
Casal Jr/Agência Brasil
Maranhão
tem mais de um quarto entre 2 mil escolas em área remanescente de quilombos do
país
As
comunidades quilombolas são grupos étnicos – predominantemente constituídos
pela população negra rural ou urbana –, que se autodefinem a partir das
relações com a terra, o parentesco, o território, a ancestralidade, as
tradições e práticas culturais próprias. De acordo com Instituto Nacional de
Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), em 2011, no Brasil,
eram 214,5 mil matrículas no ensino básico em comunidades quilombolas. Dessas,
46,2 mil no Maranhão.
Na hora
de ingressar no ensino superior, a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios
(Pnad) de 2012 mostra uma desvantagem da população negra (na qual estão
incluídos os moradores das comunidades quilombolas) em relação à população
branca. Enquanto 22,1% dos jovens brancos de 18 a 24 anos estão no ensino
superior, 9,9% da população parda e 7,8% da população preta estão nessa etapa
de ensino. As proporções se mantêm praticamente constantes desde 2009, quando
21,3% dos brancos, 8,5% dos pardos e 7,2% dos pretos de 18 a 24 anos estavam no
ensino superior.
Dos 29
alunos formados no Centro Quilombola de Alternância Ana Moreira (Ceqfaam), em
Codó, cinco passaram pelo Enem, por meio do Sistema de Seleção Unificada (Sisu)
para o Instituto Federal de Educação Ciência e Tecnologia do Maranhão (IFMA).
Nesse processo as cotas destinadas ao ensino público – pela Lei 12.711/2012 as
instituições federais de ensino devem reservar 50% das vagas para esses
estudantes até 2016 – também ajudam.
Marcello
Casal Jr/Agência Brasil
Segundo o
Inep, no Estado existem 574 centros de ensino. Em Codó, estão 13 comunidades
Francimara
Delgado Nunes é uma dessas estudantes. Ela obteve a pontuação 520 no Enem, em
uma escala de até mil pontos, e foi aprovada, em segunda chamada, para ciências
agrárias no IFMA. “Quando eu soube do resultado, que eu tinha passado, fiquei
muito contente, sai espalhando para quase todo mundo”, disse. Ela concluiu o
primeiro semestre de 2013 e ingressou no segundo. Mas, há quase um mês decidiu
abandonar o curso.
“As
dificuldades que eu mais tinha é porque não conseguia manter as despesas da
escola e as despesas de casa”, declarou. Além da dificuldade financeira,
Francimara encontrou outros empecilhos. “Me sentia excluída. Às vezes eu mesma
me excluía do grupo porque eu ficava analisando que todos eram de cidade e eu
era do interior. Eestava tendo bastante dificuldade em algumas disciplinas,
principalmente em matemática”, disse.
Francisco
Carlos da Silva, uma das lideranças da comunidade quilombola Centro do
Expedito, onde mora Francimara, destacou que o problema não é enfrentado só por
Francimara. “Infelizmente, os jovens não vão mais adiante [na formação] por
causa da questão econômica. A gente não tem condições de manter um jovem na
cidade. E ainda tem a questão da marginalidade, das drogas. Quem quer pegar o
filho e jogar na cidade sem acompanhamento? É um risco não é?”,indaga.
Para
amenizar o problema, a secretária de Educação Continuada, Alfabetização,
Diversidade e Inclusão (Secadi) do Ministério da Educação (MEC), Macaé Maria
Evaristo dos Santos, disse que foi criada a Bolsa Permanência. Os estudantes
quilombolas recebem R$ 900 por mês. O programa foi anunciado em maio deste ano
e, segundo a secretária, a bolsa pode ser acessadadiretamente nos institutos e
universidades federais. De acordo com o MEC, 88 estudantes estão recebendo o
benefício.
“A gente
reconhece a característica de um jovem que sai de uma comunidade quilombola e
vai para um grande centro estudar. Ele precisa de uma estrutura para dar conta
de concluir seus estudos”, Maria Elvira. “É muito importante que esses jovens
[que deixaram o ensino superior ou técnico por falta de condições] que retomem
ou façam novamente o Enem. A bolsa dá outra estabilidade para que esses jovens
possam ter a trajetória bem-sucedida”.
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