Beto
Macário e Carlos Madeiro
Do UOL, em São Luís
Presos do
CDP (Centro de Detenção Provisória), considerado o mais violento do complexo
penitenciário de Pedrinhas, em São Luís, ameaçam iniciar uma nova onda de
ataques caso as transferências anunciadas pelos governos do Estado e federal
sejam realizadas.
O UOL
teve acesso, com exclusividade, ao CDP, na tarde desta sexta-feira (10),
durante visita da Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa. Foi a
primeira equipe de reportagem a entrar no local desde que eclodiu a crise no
sistema prisional do Maranhão, que tem como foco o complexo de Pedrinhas.
Segundo a
Secretaria de Estado da Justiça e Administração Penitenciária, o CDP tem 698
presos, mas só tem capacidade para 402. Foi lá que três presos foram
decapitados, em dezembro de 2013. Foi de lá também que partiram as ordens de
ataques a ônibus no último dia 3. Por conta da tensão no local,
a defensoria pública suspendeu os atendimentos no local.
Segundo
um dos detentos, que prestou depoimento à comissão, os ataques aos ônibus
ocorreram para que a PM (Policia Militar) –
que ocupou o
presídio no último dia 27— deixasse o local. O temor agora é
que a transferência seja efetivada.
“Eles
tão com medo dessa transferência, eles não estão sabendo quem vai. Mas sei que,
conforme seja, nos primeiros dias vai ter de novo [ataques] para tentar colocar
pressão na população, na sociedade, na imprensa, no pessoal da secretaria, mas
não vai ser assim [como esse] não. Tem uns aí que não podem mais cair por ali,
pois não acataram a ordem, que era tirar todo mundo dos ônibus”, disse o
detento.
Segundo o
preso, a ordem era não matar ninguém, mas o atentados resultaram em quatro
feridos e a morte de uma criança de seis anos.
“Não
era para matar ninguém. A ordem era só para era só para tocar fogo em ônibus,
para chamar a atenção e tirar a PM daqui. Era isso que eles queriam”,
afirmou.
Segundo
a presidente da comissão, Eliziane Gama (PPS), o clima de tensão aponta
para a possibilidade de novas rebeliões, justamente pelos presos acusados de
praticar os atentados.
“Eu
percebi esse risco por conta da superlotação. O pessoal da triagem, que é o
pessoal preso recentemente, inclusive o pessoal suspeito dos atentados, está
numa situação mais complicada pelo nível de periculosidade. Precisaria dar
atenção diferenciada”, afirmou.
Briga entre facções
O detento
afirmou ainda que a ordem de incendiar os ônibus partiu do Bonde dos 40, uma
das duas facções criminosas que dominam o complexo. Por conta da morte da criança,
e de outra ordem que não teria sido cumprida, um dos presos acusados de atacar
o ônibus está marcado para morrer.
“Eles
estão brigando porque duas ordens que foram feitas e não foram cumpridas. Uma
foi matar a criança, e a outra lá no Vila Nova, que deram ordem para o
‘Babaninha’ e fizeram errado. Era para não matar um pessoal lá”, afirmou.
O detento
ainda afirmou que a presença da PM no presídio conferiu mais ordem ao local.
“A PM ajuda muito, eles têm medo. Em 2002, quando cheguei aqui, tinha
polícia em todo canto. Ficavam aqui e não tinha morte não. Todo tempo teve
respeito”, disse.
O UOL visitou
celas e conversou com presos, que relataram uma série de problemas. O prédio
aparenta ter boas condições, mas as celas são superlotadas. Em uma delas, havia
22 presos, onde há capacidade para apenas oito.
As celas
são abafadas e extremamente quentes. Outra reclamação é que faltam roupas por
muitos meses para eles, assim como aguardam andamento de processos.
Em meio
ao aperto e rostos cobertos, muitos presos relatam que temem pela vida. Um
preso fez questão de mostrar uma marca no dorso que, segundo ele, teria sido
causada por um tiro de bala de borracha dado à queima-roupa. A denúncia é contra
integrantes da Força Nacional, que está no local desde o dia 27.
Em uma
das celas, dois presos mostram ferimentos no rosto. Eles não relataram o
motivo. Na mesma cela, eles relatam que a água do banheiro é suja.
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