POR
IZABELLE TORRES – ISTOÉ
Aparentemente um caso isolado, a aposentadoria de José Sarney, depois de as
pesquisas indicarem altos índices de rejeição ao seu nome e ao da filha
Roseana, governadora do Maranhão, mostra que a política pode estar vivendo um
momento um tanto quanto inusitado, ou pelo menos caminha para isso. Pesquisas
para as disputas estaduais realizadas até agora revelam que herdeiros de
políticos conhecidos, donos de sobrenomes famosos, não vivem uma situação tão
confortável como em eleições passadas. Embora ainda detenham um vasto
patrimônio, incluindo empresas na área de comunicação, e contem com o poder e a
influência dos parentes nos diretórios regionais dos partidos, eles precisarão
suar a camisa se quiserem triunfar no pleito deste ano.
Os exemplos se espalham pelo País. No Maranhão reside o caso mais nítido do
enfraquecimento das dinastias. A candidatura do filho do ministro de Minas e
Energia, Edison Lobão, representava a esperança de que o poder se mantivesse ao
menos próximo do grupo político de Sarney, que submergiu depois de longos 50
anos no comando do Estado. Mas o senador Edison Lobão Filho corre sério risco
de ser derrotado pelo adversário Flávio Dino (PCdoB) ainda no primeiro turno.
Em
Roraima, a influência do senador Romero Jucá (PMDB) não tem sido suficiente
para fazer deslanchar a chapa da situação, composta pelo seu filho Rodrigo, que
é candidato a vice-governador. Diferentes pesquisas feitas até aqui mostram que
a impopularidade do atual governador do Estado, Chico Rodrigues (PSB), companheiro
de chapa de Jucazinho, deixa o grupo com percentuais que não chegam a 25% das
intenções de voto. A principal adversária é Ângela Portela, do PT, que ostenta
o dobro. No Estado, Jucá, o pai, mantinha poder inabalável havia décadas e
sempre colocou sua influência a serviço da projeção política do filho. Até
agora, no entanto, esse empenho não surtiu efeito.
Ciente do ocaso dos coronéis País afora, o filho do senador Jader Barbalho,
Helder Barbalho, tentou ser mais esperto para não perder votos. Candidato ao
governo do Pará, ele preferiu não usar o sobrenome Barbalho na campanha, apesar
de sobreviver politicamente graças à influência da família no Estado. Mas é
quase impossível desvincular o nome dos dois. A maior parte do eleitorado
paraense conhece a trajetória familiar de Helder. E o pai está mais próximo do
que nunca da campanha do herdeiro. Para viabilizar o filho, Jader Barbalho usou
seu prestígio para levar o ex-presidente Lula à convenção do partido, na última
segunda-feira 30. Por ora, nas recentes pesquisas, Helder aparece tecnicamente
empatado com o atual governador Simão Jatene (PSDB), candidato à reeleição. Ou
seja, a disputa está acirrada e, se quiser vencer nas urnas, Helder, com ou sem
o “Barbalho”, terá de mostrar mais do que padrinhos de peso.
Renan Filho, herdeiro do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL),
talvez seja a experiência mais bem-sucedida, pelo menos até agora, da tentativa
de uma família de manter a influência regional. Mas dificuldades para isso nem
de longe poderiam ser vislumbradas anos atrás. Com o diretório estadual do
partido nas mãos e uma lista de favores concedidos aos governos Lula e Dilma
Rousseff, o senador conseguiu colocar Renan Filho na dianteira das pesquisas. A
margem, porém, é apertada. Como poucas vezes aconteceu na sua carreira
política, Renan Calheiros vem tendo trabalho para costurar as alianças em torno
do filho. Para o lamento do cacique alagoano, que nunca precisou fazer campanha
no Estado para vencer eleição, a força do sobrenome já não é mais a
mesma.
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