A Federação do Comercio do Maranhão, em sua publicação bimestral “Comércio em Revista” revela o descaso das autoridades públicas com o outrora pujante centro comercial do centro de São Luís. Aspectos como falta de infraestrutura, iluminação e segurança precárias preocupam os empresários que insistem em permanecer no grande shopping a céu aberto da capital. Abaixo segue a reportagem feita pela Assessoria de Comunicação da Fecomércio.
Mesmo com a expansão dos shoppings, manter pontos comerciais no centro de São Luís, na área que compreende vias como a Rua Grande, principal rua comercial da cidade, Rua de Santana, Rua da Paz, entre outras, ainda é considerado pelos empresários um bom investimento empresarial, por causa da tradição dos consumidores de ir ao centro comercial em busca de maior oferta de produtos e variedade de preços.
De acordo com dados da Câmara dos Dirigentes Lojistas de São Luís, existem atualmente 165 empresas cadastradas que atuam no centro de São Luís e a oferta varia entre lojas de roupas, relojoarias, óticas, lojas de equipamentos eletrônicos, eletrodomésticos e móveis para o lar. Esses empreendimentos geram receita, ampliam a oferta de empregos, mas, de acordo com a presidente da CDL, Socorro Noronha convivem, diariamente, com problemas que vão de infraestrutura, segurança entre outros aspectos que, com o tempo, fazem com que alguns empresários migrem para outras áreas, distantes do centro de São Luís. “Consideramos preocupante o fato de que as empresas estejam deixando de se instalar no centro, que é o coração comercial de São Luís. Mas isso acontece exatamente pelas deficiências de infraestrutura e por problemas que há muito preocupam o empresariado” frisa.
A presidente da CDL cita ainda que a popularização de um novo perfil consumidor que chegou ao Maranhão junto com a popularização dos shoppings tornou o público ainda mais exigente e isso esvaziou o centro comercial. “Os shoppings criaram novos espaços de consumo onde a população encontra segurança, limpeza, estacionamento e condições para fazer suas compras com tranqüilidade e conforto. No centro tem acontecido um processo inverso”, avalia.
Processo Histórico
O esvaziamento no centro comercial de São Luís, considerado um dado preocupante pela CDL, é um reflexo das mudanças sociais e econômicas ocorridas no centro histórico como um todo iniciado na década de 80 que configurou em um crescimento comercial para outras áreas de São Luís, causando um esvaziamento do centro, em moradia e consumo, o que, de certa forma, trouxe alguns prejuízos para o cenário como um todo.
De acordo com o presidente da Fundação Municipal de Patrimônio Histórico, José Aquiles Andrade, as transformações iniciaram a partir da construção da ponte José Sarney, obra que foi a principal responsável pelo eixo de expansão para o litoral norte da cidade e isso, propiciou a construção de moradias e novos eixos de crescimento comercial. “Até a década de 70, essa outra área era considerada de veraneio e a partir desse período as pessoas foram mudando para essa área. A revitalização do Centro Histórico como um todo, consiste em estancar o processo de evasão, dando condições que as pessoas se estabeleçam no centro, infra-estrutura, transporte, para dinamizar a área, movimentar a cadeia produtiva”, analisa.
Para o presidente da FUMPH, além do centro comercial em si, outros espaços do Centro Histórico de São Luís, mesmo os prédios tombados podem ser transformados em empreendimentos. “Existe uma Lei Municipal que trata sobre a instituição de redução do Iss de 5% para 2% para empreendimentos que causam menos impacto, empresas de telemarketing, consultoria, incentivo de valorização do centro comercial. E têm o IPTU, 100% de isenção se o imóvel tiver conservado, avaliado pela Fundação Municipal de Patrimônio Histórico”, conta.
Bom negócio?
Apesar dos problemas, para os empresários que estão no centro ainda vale a pena investir, por fatores que incluem o hábito dos moradores de São Luís em continuar freqüentando a Rua Grande, apesar dos shoppings. “É ainda no grande centro comercial que se encontra de tudo e apesar de um esvaziamento causado pela expansão comercial em outras áreas, a população tem hábito de freqüentar a Rua Grande, então, para os empresários ainda é bom negócio investir em lojas na Rua Grande e nas ruas de entorno, como de Santana, da Paz”, frisa o empresário José Terceiro Fontinelle, da ótica Itamaraty.
A mesma opinião é do empresário Sérgio Sombra, do grupo Foto Sombra, ele mantém duas lojas localizadas no centro de São Luís e acredita que o sofrimento dos empresários é compartilhado pelos clientes, ainda assim, acredita que as lojas no centro geram lucros que ainda são considerados satisfatório para o empresariado. “Apesar de todas as mazelas, acho que ainda vale apena ter loja na Rua Grande, pois é um centro comercial de referência no Maranhão, poucos lugares no Brasil concentram um fluxo tão grande de consumidores. Seria mais atrativo ainda para os clientes se houvesse um empenho maior por parte das autoridades, oferecendo mais segurança e conforto as pessoas que ali transitam”, observa o empresário.
Federação do Comércio faz alerta para os problemas do centro comercial
As reclamações dos empresários sobre os problemas relacionados ao centro comercial de São Luís serviram como principal pauta do Ciclo de Debates 2011 realizado pela Federação do Comércio do Maranhão, no dia 3 de fevereiro. Para a realização do Ciclo de Debates 2011 a Fecomércio contou com a parceria da Câmara de Dirigentes Lojistas de São Luís (CDL), do Sebrae, da Federação das CDL e da Fiema, além dos 19 sindicatos filiados à Federação do Comércio.
Na ocasião, que reuniu entidades representativas da classe empresarial, entre elas a presidente da CDL São Luís, Socorro Noronha, o presidente da Federação das CDLs, Alberto Nogueira, o diretor da Fiema, Roberto Bastos da Silva, os vereadores Rose Sales e Francisco Chaguinha, e o presidente da Fundação Municipal do Patrimônio Histórico, José Aquiles Sousa Andrade, o secretário municipal de Obras e Serviços Públicos, Marcos Aurélio Freitas assinou um termo de compromisso com as entidades representativas, comprometendo-se a ter mais empenho para solucionar os problemas de infraestrutura do centro comercial.
O secretário Marcos Freitas explicou que algumas obras já estão sendo realizadas, em pontos estratégicos das ruas do centro da cidade, mas observou que muito trabalho ainda necessita ser feito. “Eu concordo que o que já foi feito ainda é muito pouco, mas nós assumimos esse desafio e iremos continuar o trabalhando para resolver esses problemas”, disse.
A classe empresarial expôs alguns problemas que são considerados preocupantes, entre eles, a falta de banheiros públicos, tampas de bueiros e esgotos abertas ou vazando, calçamento precário na Rua Grande e nas transversais, lixo acumulado, desorganização do comércio ambulante, principalmente em relação às bancas que ficam montadas durante a noite, os estacionamentos nas ruas estreitas que dificultam a passagem dos pedestres, a falta de praças ou a falta de conservação das que existem, e a falta de sistemas de escoamento das águas das chuvas.
Na ocasião, o presidente da Fecomércio, José Arteiro da Silva frisou a importância das discussões do empresariado diretamente com os gestores públicos. “O Ciclo de Debates é um evento que já realizamos desde 2009, trazendo os empresários para este espaço de discussão que é essencial para que a classe seja ouvida e o cenário atual se modifique”, destacou José Arteiro.
Rua Grande através dos tempos
1640 – Por ocasião da invasão dos holandeses, a Rua Grande já possuía 4 quadras e alguns edifícios – indo até a rua da Cruz, e já se configurava como caminho de acesso ao interior da ilha.
1665 – Governantes transformam o caminho em rua, permitindo a passagem de carros de boi, favorecendo o transporte de cargas do Centro ao Cutim.
1743 – Época da construção da Igreja de Nossa Senhora da Conceição dos Mulatos, sede paroquial a partir de 1805.
1844 – A Rua Grande já se estendia até a rua do Outeiro e, a partir daí, era chamada de Caminho Grande, onde existiam várias Quintas, e se prolongava até as Fortificações de proteção contra a invasão dos indígenas.
1855 – Em 10 de março deste ano, é concluído o calçamento, após quase três anos de serviços, durante a administração do Sr. Eduardo Olímpio Machado, custando ao governo a quantia de 14:857$530 réis.
1866 – Existiam 178 casas construídas ao longo desta via.
1867 – Novo calçamento foi realizado por João Pereira Leite, contratado por 7:760$000 réis para um trecho de 4.500 braças.
1868 – Menos de um ano depois, a 25 de maio, Dr. Jansen Ferreira fechou novo contrato para o calçamento de 1.170 braças quadradas com o Capitão-de-Engenheiros, Dr. Francisco Gomes de Sousa, no valor de 15:210$000 réis. A obra incluía os paredões para segurança de barreiras.
1897 – O governador Manuel Inácio Belfort Vieira surgiu com a idéia do assentamento das pedras com cimento.
1912 – Instalação de uma oficina em Icatu, especializada na lavra de pedras de granito no formato de paralelepípedos, usadas no calçamento das ruas.
1912 – Com a Igreja da Nossa Senhora da Conceição como sede da Freguesia do mesmo nome, a rua Grande possuía linha de bonde em toda sua extensão, indo até o Anil, e outra que cortava ligando o Largo dos Remédios até a Quinta do Matadouro (São Pantaleão), pelas ruas Rio Branco, do Passeio, e a atual rua do Norte.
1920 – Conforme Lei Municipal desta década, que exigia a construção de platibandas nas edificações, o aspecto colonial foi seriamente alterado.
1939 – Foi demolida a Igreja N. S. da Conceição, e no local foi erguido mais tarde o edifício Caiçara.
1940 – Na execução do Plano de Reforma Urbanística da cidade de São Luís, na gestão do interventor Paulo Ramos, o antigo Caminho Grande recebeu “magnífica pavimentação” e arborização. Foi feita a reforma da Praça João Lisboa e a abertura da avenida Magalhães de Almeida, com a destruição de algumas casas do início da rua Grande.
1979 – Durante a administração de Mauro Fecury, houve a segunda tentativa de fechamento da rua Grande e algumas das suas transversais, para o trânsito de veículos. A primeira tentativa foi feita durante a gestão do Major Pereira dos Santos, na década de 50, abrangendo o trecho entre a praça João Lisboa e a rua da Cruz.
1990 – A Prefeitura executa um novo projeto de urbanização para a rua, com o alargamento das calçadas, incluindo piso em placas de concreto pré-moldadas, mantendo-se a pista com paralelepípedos, prevendo a implantação das instalações por via subterrânea. Adotou-se uma política de valorização das edificações, com a recuperação das fachadas e padronização da publicidade.
Extraído do livro “Rua Grande: Um Passeio no Tempo”, do jornalista Paulo Melo de Souza, lançada em 1992.