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“O Planalto sabia de tudo”, revela doleiro

Reinaldo Azevedo

O governo segurou
dados negativos sobre o Ideb, a miséria e a arrecadação, entre outros, porque
teme que eles possam prejudicar a votação da candidata do PT à reeleição. Já é
um escândalo porque o estado brasileiro não pertence ao partido. Ao jornalismo
não cabe nem retardar nem apressar a publicação de uma reportagem em razão do
calendário eleitoral. A boa imprensa se interessa por fatos e disputa, quando
muito, leitores, ouvintes, internautas, telespectadores. Na terça-feira passada
— há três dias, portanto —, o doleiro Alberto Youssef, preso pela Operação Lava
Jato, deu um depoimento estarrecedor à Polícia Federal e ao Ministério Público.
A revista VEJA sabe o que ele disse e cumpre a sua missão: dividir a informação
com os leitores. Se, em razão disso, pessoas mudarão de voto ou se tornarão
ainda mais convictas do que antes de sua opção, eis uma questão que não diz
respeito à revista — afinal, ela não disputa o poder. E o que disse Youssef,
como revela VEJA, numa reportagem de oito páginas? Que Luiz Inácio Lula da
Silva e Dilma Rousseff sabiam da roubalheira que havia na Petrobras.

Mais: Youssef se
prontificou a ajudar a Polícia a chegar a contas secretas do PT no exterior.
Segundo as pesquisas, Dilma poderá ser reeleita presidente no domingo. Se isso
acontecer e se Youssef fornecer elementos que provem que a presidente tinha
conhecimento das falcatruas, é certo como a luz do dia que ela será deposta por
um processo de impeachment. Não é assim porque eu quero. É o que estabelece a
Lei 1.079, com base na qual a Câmara acatou o processo de impeachment contra
Collor e que acabou resultando na sua renúncia. O petrolão já é o maior
escândalo da história brasileira e supera o mensalão.

O diálogo que
expõe a bomba capaz de mandar boa parte do petismo pelos ares é este:

— O Planalto sabia
de tudo!

— Mas quem no
Planalto?, perguntou o delegado.

— Lula e Dilma,
respondeu o doleiro.

Youssef diz ter
elementos para provar o que diz — e, em seu próprio benefício, é bom que tenha,
ou não contará com as vantagens da delação premiada e ainda poderá ter a sua
pena agravada. A sua lista de políticos implicados no esquema já saltou, atenção,
de 30 para 50. Agora, aparece de forma clara, explícita, em seu depoimento, a
atuação de José Sérgio Gabrielli, presidente da Petrobras durante o califado de
Lula e em parte do governo Dilma. Entre outros mimos, ele revela que Gabrielli
o chamou para pagar um cala-boca de R$ 1 milhão a uma agência de publicidade
que participava do pagamento ilegal a políticos. Nota: Youssef já contou à PF
que pagava pensão mensal a membros da base aliada, a pedido do PT, que variavam
de R$ 100 mil a R$ 150 mil.

Pessoas que
conhecem as denúncias de Youssef asseguram que João Vaccari Neto — conselheiro
de Itaipu, tesoureiro do PT e um dos coordenadores da campanha de Dilma — será
fulminado pelas denúncias. O doleiro afirma dispor de provas das transações com
Vaccari. Elas compõem o seu formidável arquivo de mais de 10 mil notas fiscais,
que servem para rastrear as transações criminosas.

Contas no exterior

É nesse arquivo de
Youssef que se encontram, segundo ele, os elementos para que a Polícia Federal
possa localizar contas secretas do PT em bancos estrangeiros, que o partido
sempre negou ter, é claro. Até porque é proibido. A propósito: o papel de um
doleiro é justamente fazer chegar, em dólar, ao exterior os recursos roubados,
no Brasil, repatriando-os depois quando necessário.

Por que VEJA não
revelou isso antes? Porque Youssef só depôs na terça-feira. A revista antecipou
a edição só para criar um fato eleitoral? É uma acusação feita por pistoleiros:
VEJA publicou uma edição na sexta-feira anterior ao primeiro turno e já tinha
planejada e anunciada uma edição na sexta-feira anterior ao segundo turno. Mas
que se note: ainda que o tivesse feito, a decisão seria justificada. Ou existe
alguém com disposição para defender a tese de que vota melhor quem vota no
escuro?

Quanto ao risco de
impeachment caso Dilma seja reeleita, vamos ser claros: trata-se apenas da
legislação vigente no Brasil desde 10 de abril de 1950, que é a data da Lei
1.079, que define os crimes de responsabilidade e estabelece a forma do
processo. Valia para Collor. Vale para Dilma. Se Youssef estiver falando a
verdade — num processo de delação premiada — e se Dilma for reeleita, ela será
deposta. Se a denúncia alcançar também seu vice, Michel Temer, realizam-se
novas eleições diretas 90 dias depois do último impedimento se não tiver
transcorrido ainda metade do mandato. Se os impedimentos ocorrerem nos dois
anos finais, aí o Congresso tem 90 dias para eleger o titular do Executivo que
concluirá o período.

Informado, o
eleitor certamente decide melhor. A VEJA já está nas bancas.

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