Revelações feitas por contadora à PF ligam
governadora do Maranhão ao doleiro Alberto Youssef
por Jailton de Carvalho
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Roseana fazendo teatro durante a visita do ministro da Justiça e São Luís |
CURITIBA — O Superior Tribunal de
Justiça (STJ) deve decidir nos próximos dias se abre inquérito contra a
governadora Roseana Sarney e um grupo de altos funcionários do governo do
Maranhão acusados de cobrar uma propina de R$ 6 milhões para a liberação de um
precatório de R$ 120 milhões para as empresas Constran e UTC. O STJ terá como
base para a decisão um relatório da Polícia Federal com detalhado depoimento da
contadora Meire Bonfim da Silva Poza sobre o suposto suborno e cópia de uma
comprometedora troca de e-mails entre o doleiro Alberto Youssef, que teria pago
parte da propina, e os dirigentes das duas empresas.
No relatório, já enviado ao STJ,
constam ainda fotos de Youssef com duas malas, uma delas com parte do dinheiro
da propina, segundo o documento sobre as circunstâncias da prisão dele.
Youssef, um dos alvos centrais da Operação Lava-Jato, foi preso em 17 de março,
no hotel Luzeiro, em São Luiz, pouco depois de, supostamente, pagar R$ 1,4
milhão a uma das parcelas da propina. A decisão sobre a abertura de inquérito
criminal deverá ficar a cargo da ministra Regina Helena, que tem sido a
relatora de pedidos de habeas corpus e outros pedidos relacionados a
investigados da Lava Jato.
Em depoimento à PF no dia 7 de agosto,
Meire Poza disse que Youssef negociou o pagamento de uma propina de R$ 6
milhões para o governo de Roseana liberar o pagamento de um precatório de R$
120 milhões da Constran. Segundo a contadora, dos R$ 6 milhões acertados,
Youssef chegou a pagar R$ 4,6 milhões. Meire cita os nomes de vários altos
funcionários do governo do estado que participaram das negociações para a
liberação irregular do precatório, e menciona explicitadamente Roseana Sarney
ao apontar os destinatários da propina.
A referência à governadora foi feita
inicialmente por Adarico Negromonte, irmão do ex-ministro Mário Negromonte e um
dos funcionários de Youssef. Segundo Meire, Adarico foi escalado para pagar uma
das parcelas da propina de R$ 300 mil, mas teve dificuldades de cumprir a
tarefa. O interlocutor de Adarico teria dito “que era pouco e que teria que
consultar a governadora para saber se aceitaria apenas esse valor” . A
contadora relatou ainda que, depois do acerto para a liberação do precatório,
Youssef não teve descanso.
“O governo do Maranhão mantinha Alberto
sempre pressionado quanto ao repasse da propina”, disse a contadora ao delegado
Eduardo Mauat. As suspeitas sobre a suposta fraude são reforçadas por uma troca
de e-mails entre Youssef e os dirigentes das empresas associadas Constran e
UTC. Num dos textos, apreendidos pela PF, Walmir Pinheiro, da Constran, festeja
com o doleiro e com colega Augusto Ribeiro Pinheiro o sucesso da operação com o
governo do Maranhão.
“Parabéns pela concretização do acordo
com o governo do Maranhão. Sei perfeitamente o quanto foi duro fechar essa
operação”, afirma Waldmir na mensagem endereçada a Youssef e Augusto, entre
outros colegas de empresa, em 10 de dezembro do ano passado. Logo depois Youssef
responde : “Walmir obrigado mais todos merecem parabéns”.
Pelo relato de Meire Poza, o negócio
teria sido fechado com o secretário de Planejamento, João Bringel, com o
ex-secretário da Casa Civil, João Guilherme, com a presidente do Instituto de
Previdência do Maranhão Maria das Graças Marques, entre outros.
A contadora disse que a liberação do
precatório envolveria uma transação triangular. Pelo acerto, o Instituto de
Previdência faria um aporte de R$ 120 milhões em um fundo indicado por Youssef.
O fundo participaria da simulação da compra de um terreno e construção de um
hotel no Rio de Janeiro ou no Maranhão pela Constran. O aporte teria como
lastro o precatório de R$ 120 milhões. No final da operação, o projeto de
construção do hotel seria dado como fracassado e ao Instituto de Previdência
restaria cobrar o precatório do governo maranhense.
Para Meire Poza, se o precatório seria
ou não honrado, não era mais problema de Youssef. A Constran já teria recebido
os R$ 120 milhões integralmente. A contadora prestava serviços a GFD, uma das
empresas do doleiro. Ela decidiu delatar parte dos negócios do ex-chefe para se
livrar de um eventuais acusações relacionadas a estrutura de lavagem de
dinheiro de Youssef.
O advogado Antônio Figueiredo Basto,
chefe de equipe responsável pela defesa de Youssef, negou que o cliente tenha
intermediado o pagamento de propina a integrantes do governo do Maranhão.
Segundo ele, Youssef viajou ao Maranhão para comprar um terreno onde
construiria um hotel e nada mais além disso. O advogado disse que Meire Poza
mentiu e que, agora, terá que provar todas as acusações que fez contra Youssef
e os dirigentes da Constran e UTC.
— Isso (pagamento de propina) é uma
mentira. Ele (Youssef) não pagou nada a ninguém. Ela vai ter que provar. Cadê
as provas? — afirma Figueiredo.
Por intermédio de sua assessoria de
imprensa, a governadora disse que são as acusações feitas contra ela por Meire
Poza são infames. “A respeito da declaração que teria sido feita em depoimento
à Polícia Federal pela senhora Meire Poza, sobre uma suposta afirmação do
senhor Adarico Negromonte, tenho a dizer que não conheço esta pessoa e tais
referências desrespeitosas e infames só podem receber de minha parte indignação
e repúdio”. (O Globo)
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