Na
opinião de ministros sobre colegas, ao menos 2 tendem a absolver núcleo
político
Dos nove
magistrados ouvidos, nenhum revelou o voto, mas vários palpitaram sobre a
inclinação dos colegas
MÔNICA
BERGAMO
COLUNISTA DA FOLHA
A
resposta à pergunta mais repetida desde o início do julgamento do mensalão
ainda é desconhecida no próprio STF (Supremo Tribunal Federal): a corte vai
condenar ou inocentar os principais réus do que o Ministério Público Federal
chama de “núcleo político” do escândalo?
A Folha
esteve com nove dos 11 magistrados nas últimas duas semanas.
Nenhum
deles revelou sua convicção. Poucos sinalizaram como devem votar. Mas, embora o
clima seja de desconfiança e os magistrados evitem trocar confidências, vários
foram prolixos ao palpitar sobre o que imaginam ser a posição dos colegas.
Pela
média das opiniões, o placar estaria hoje indefinido -mas apertado para os
réus. Pelo menos cinco ministros estariam emitindo sinais de que devem condenar
protagonistas “políticos” do mensalão. Entre eles, José Dirceu,
ex-ministro da Casa Civil do governo Lula.
Quatro
manteriam tal discrição que seria arriscado até mesmo especular sobre seus
votos. Dois são tidos como relativamente certos pela absolvição de ao menos
alguns.
EMOÇÃO
Joaquim
Barbosa é rara unanimidade: todos os que opinaram afirmam que ele condenará os
principais réus. A avaliação coincide com a dos advogados: nenhum tem esperança
de voto favorável.
Em seu
primeiro pronunciamento, na semana passada, Barbosa votou pela condenação do
deputado João Paulo Cunha (PT-SP) nos três crimes dos quais é acusado.
Relator
do processo, Barbosa foi rigoroso com a defesa e se negou a receber até mesmo o
ex-ministro Márcio Thomaz Bastos, que representa um ex-diretor do Banco Rural,
sem o Ministério Público, que faz a acusação.
Em
segundo no “ranking”, pela condenação dos principais réus, está o
presidente da corte, Carlos Ayres Britto.
O próprio
Britto já se definiu a interlocutores como liberal em casos de “ladrão de
galinha”, mas duro com crimes “de colarinho branco”.
O
ministro nega que já tenha o voto definido. “Não é bem assim. Tenho a
estrutura pronta. Mas o fecho, não. Senão, para que serviria essa fase de
oralidade [em que acusação e defesa falam]? Seria um teatro, uma farsa.”
Gilmar
Mendes foi incluído entre os que podem condenar. O ministro não esconde a
indignação pelos “ataques” feitos a ele por setores do PT e blogs
financiados por estatais. Interlocutores de Mendes, no entanto, dizem que ele
“jamais” se deixaria “pilotar” pela emoção.
Tido como
“garantista” e indiferente à pressão “das ruas”, ele já deu
voto de absolvição em casos como o do ex-ministro Antonio Palocci, acusado de
quebrar sigilo de um caseiro. É esperança para advogados. Mas o respaldo que
tem dado a Barbosa indicaria voto pela condenação.
Cezar
Peluso não trai seu ânimo nem em simples gestos no plenário. Mas é tido como
voto contra. Na aceitação da denúncia pelo STF, em 2007, foi considerado
“duro”. E disse sobre Dirceu: “Há dificuldade em admitir que não
soubesse da desenvoltura do tesoureiro do PT [Delúbio Soares]” em
manipular “quantias vultosas” de dinheiro.
Marco
Aurélio Mello faz críticas à condução do julgamento. Juristas o alinharam pela
absolvição. Na semana passada, no entanto, enviou sinal na direção oposta ao
dizer a um amigo que aquela era uma “leitura equivocada”: “Eles
que me esperem”.
Um
ministro pontua que Mello é liberal, mas “mudou muito de uns anos pra cá.
Antes concedia habeas corpus. Agora, denega vários”.
Cármen
Lúcia já falou mal de advogados e réus no cafezinho do STF. Mas um ministro
alerta: “Ela pode estar dando sinal trocado, para despistar. No caso Palocci,
tida como pró-absolvição, votou ao contrário”. É mistério até para os mais
palpiteiros.
Celso de
Mello, decano da corte, é outra incógnita. Liberal, diz ainda estar com “a
cabeça totalmente aberta”.
Luiz Fux
também confunde. Sempre foi colocado na coluna da absolvição, por ter sido
indicado pela presidente Dilma Rousseff. “Mas tem mandado sinal para todo
lado”, afirma um magistrado.
TRADUÇÃO
A
ministra Rosa Weber, outra indicada por Dilma, entra muda e sai praticamente
calada do STF. “Mas faz careta quando as discussões se alongam”, nota
um colega.
Até
agora, acompanhou quase sempre os posicionamentos de Joaquim Barbosa. Tida até
então como voto de absolvição, passou a ser temida pelos réus do PT.
Amiga da
família da presidente, seu posicionamento será traduzido como a medida do
empenho, ou da falta de interesse, de Dilma pela absolvição. Será a primeira a
votar depois de relator e revisor. Ninguém imagina como.
Ricardo
Lewandowski e José Antonio Dias Toffoli são tidos como votos possíveis pela
absolvição de Dirceu, embora interlocutor de Lewandowski tenha dito à Folha
que ele “vai surpreender. Condenará muitos por quadrilha. Vão sobrar
poucos”.
Em 2007,
Lewandowski foi o único a votar contra a denúncia de Dirceu por crime de quadrilha,
alertando para o “risco de potencialização do exercício do cargo”.
Advogado
de Lula na reeleição, em 2006, Toffoli encaminhou petição à Justiça Eleitoral
dizendo que as acusações do mensalão “jamais” haviam sido
comprovadas.
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