Na abertura do Congresso da ANJ, jornalista do ‘New York
Times’ define como bem-sucedido e inovador sistema ‘paywall’ na internet
Débora Álvares, de O Estado de S. Paulo
Os veículos de comunicação do Brasil devem pensar logo
em como cobrar pelo conteúdo digital que oferecem em sites, smartphones e
tablets, prática conhecida como paywall. A avaliação foi feita ontem
pelo gerente-geral de News Service do jornal The New York Times, Michael
Greenspon, que participou do primeiro painel do 9.º Congresso
Brasileiro de Jornais. O evento termina nesta terça-feira, 21, no
Sheraton WTC Hotel.
Em sua palestra sobre o tema Construindo Novos Modelos de Negócios,
Greenspon lembrou que o NY Times tem cerca de 500 mil assinantes que
pagam, por algum dos três tipos de pacotes digitais oferecidos, US$ 20
por mês em média. O paywall adotado pelo jornal nova-iorquino se
sustenta em quatro pilares: engajamento social, conteúdo em vídeo, móvel
e internacional.
Para Greenspon, a cobrança pelo conteúdo digital, implementada no ano
passado, deveria ter ocorrido antes. “Um total de 40% da nossa
audiência se dizia disposta a pagar por algo. Um ano depois da cobrança,
nosso modelo de assinatura digital se provou inovador”, explicou. Mas
ele advertiu que a mudança no modelo não pode implicar o abandono das
premissas básicas do bom jornalismo: “Nós não fizemos isso e não vamos
fazer. O jornalismo de qualidade é importante e deve ser mantido”.
Convencido de que a internet muda os meios, mas não o conteúdo da
informação, o ex-diretor da sucursal do Times em Washington Bill Kovach
defendeu a adoção de um modelo colaborativo durante o painel Fundamentos
do Jornalismo: por que continuam valendo nas novas mídias. Para Kovach,
coautor de um clássico das escolas de jornalismo, Os Elementos do
Jornalismo, Kovach acredita que os leitores devem ser tratados como
participantes do fazer jornalístico. “O negócio sempre imagina as
pessoas como consumidoras. As redações precisam lidar com leitores como
parte do que está ocorrendo”, afirmou. Dessa forma, a missão do
jornalista passaria a ser filtrar e agregar a avalanche de dados para os
cidadãos.
Ao longo do dia, vários painéis abordaram temas como a publicidade em
um mercado multiplataforma; internet paga; o direito autoral em mídias
digitais e a autorregulamentação.
Transparência. Liberdade de Expressão foi o tema de
um painel moderado pelo diretor-presidente do Grupo Estado, Francisco
Mesquita Neto. Na exposição, a diretora de Prevenção da Corrupção da
Controladoria-Geral da União, Vânia Vieira, apresentou um balanço da Lei
de Acesso à Informação (LAI). Para ela, a nova lei apresenta alguns
efeitos concretos. “A abertura de dados já vem mudando a relação do
Estado com a Administração Pública”, disse ela. Segundo ela, a lei ainda
tem desafios a superar, como a confusão que os cidadãos têm feito em
relação ao que cabe a órgãos federais responder e o que trata de
informação pessoal. Coube ao diretor de Conteúdo do Grupo Estado,
Ricardo Gandour, falar em outra mesa sobre os desafios do
desenvolvimento e da gestão de talentos no ambiente multiplataforma.
Para ele, os novos tempos de edição multimidiática colocam alguns
desafios, em especial, de adaptação. “Uma das perguntas que ficam é como
vou transpor meu treinamento de hierarquização e priorização de
notícias, que antes eram guiados pela finitude e escassez de espaço, num
local sem limites, onde eu decido o que publicar.”
A migração para o multimídia, ressaltou Gandour, exigiu das empresas
um novo modo de trabalhar que tem impactado diretamente no espaço físico
das redações, com incorporação de novos profissionais, como
programadores, instalação de novas estações de trabalho.
Um comitê dedicado a estratégias digitais abordou o tema “Internet
não é grátis”, que discutiu a relação custo x audiência do novo meio e
teve, entre os participantes, o diretor executivo de Estratégia
Corporativa do Grupo Estado, José Papa Neto.
No programa desta terça do congresso, um dos grupos analisará a
autorregulamentação da mídia, a partir de uma avaliação do programa da
ANJ para o setor.
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