Gustavo
Gantois
Direto de Brasília
O
procurador-geral da República, Roberto Gurgel, informou nesta terça-feira que
encaminhou para o Ministério Público Federal no Distrito Federal (MPF-DF) a
representação protocolada contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva por
supostamente ter pressionado o ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal
Federal (STF), para adiar o julgamento do mensalão. Segundo Gurgel, como Lula
não tem mais foro privilegiado – e a representação não cita o ministro -, não
cabe à PGR analisar o caso.
Segundo
reportagem da revista Veja, Lula e Gilmar Mendes teriam se encontrado no
escritório do ex-ministro e ex-presidente do STF Nelson Jobim no dia 26 de
abril. Lula teria pedido a Mendes o adiamento do julgamento do mensalão pelo
STF. Em troca, teria oferecido blindagem na CPI que investiga as relações do
bicheiro Carlinhos Cachoeira com políticos e empresários. Ontem, Lula divulgou
nota na qual afirma estar “indignado” com a notícia.
Lula
disse ao ministro, segundo relato de Mendes à revista, que é
“inconveniente” julgar o processo agora e chegou a fazer referências
a uma viagem a Berlim, na Alemanha, em que o ministro se encontrou com o
senador Demóstenes Torres (sem partido-GO), hoje investigado por suas ligações
com o bicheiro Carlinhos Cachoeira.
A
representação, protocolada pelo PSDB, pede a investigação de três crimes:
coação no curso do processo, tráfico de influência ativo e, ainda, promessa de
vantagens indevidas.
Carlinhos
Cachoeira
Acusado de comandar a exploração do jogo ilegal em Goiás, Carlos Augusto Ramos,
o Carlinhos Cachoeira, foi preso na Operação Monte Carlo, da Polícia Federal,
em 29 de fevereiro de 2012, oito anos após a divulgação de um vídeo em que
Waldomiro Diniz, assessor do então ministro da Casa Civil, José Dirceu, lhe
pedia propina. O escândalo culminou na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI)
dos Bingos e na revelação do suposto esquema de pagamento de parlamentares que
ficou conhecido como mensalão.
Escutas
telefônicas realizadas durante a investigação da PF apontaram contatos entre
Cachoeira e o senador democrata Demóstenes Torres (GO). Ele reagiu dizendo que
a violação do seu sigilo telefônico não havia obedecido a critérios legais.
Nos dias
seguintes, reportagens dos jornais Folha de S.Paulo e O Globo
afirmaram, respectivamente, que o grupo de Cachoeira forneceu telefones
antigrampos para políticos, entre eles Demóstenes, e que o senador pediu ao
empresário que lhe emprestasse R$ 3 mil em despesas com táxi-aéreo. Na
conversa, o democrata ainda vazou informações sobre reuniões reservadas que
manteve com representantes dos três Poderes.
Pressionado,
Demóstenes pediu afastamento da liderança do DEM no Senado em 27 de março. No
dia seguinte, o Psol representou contra o parlamentar no Conselho de Ética e,
um dia depois, em 29 de março, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF)
Ricardo Lewandowski autorizou a quebra de seu sigilo bancário.
O
presidente do DEM, senador José Agripino Maia (RN), anunciou em 2 de abril que
o partido havia decidido abrir um processo que poderia resultar na expulsão de
Demóstenes, que, no dia seguinte, pediu a desfiliação da legenda, encerrando a
investigação interna. Mas as denúncias só aumentaram e começaram a atingir
outros políticos, agentes públicos e empresas.
Após a
publicação de suspeitas de que a construtora Delta, maior recebedora de
recursos do governo federal nos últimos três anos, faça parte do esquema de
Cachoeira, a empresa anunciou a demissão de um funcionário e uma auditoria. O
vazamento das conversas apontam encontros de Cachoeira também com os
governadores Agnelo Queiroz (PT), do Distrito Federal, e Marconi Perillo
(PSDB), de Goiás. Em 19 de abril, o Congresso criou a CPI mista do Cachoeira.
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