UOL – O empresário Joesley Batista, um dos donos do grupo J&F, em entrevista concedida à revista “Época” desta semana, afirma que o presidente Michel Temer (PMDB) é “o chefe da maior e mais perigosa organização criminosa” do país. Josley também confirma que pagou pelo silêncio na prisão de Eduardo Cunha e Lúcio Funaro, apontado como o principal operador de propina do ex-presidente da Câmara, e que o ex-ministro Geddel Vieira Lima era o “mensageiro” do presidente que o procurava para garantir que este silêncio seria mantido.
Na entrevista, publicada nesta sexta-feira (16), Joesley detalha a relação com Michel Temer, que, segundo ele, “nunca foi uma relação de amizade” e sim “institucional”. Ele diz que Temer o via “como um empresário que poderia financiar as campanhas dele e fazer esquemas que renderiam propina”.
A relação, que teve início por meio de Wagner Rossi, ex-ministro da Agricultura, Pecuária e Abastecimento nos governos Lula e Dilma, segundo ele, era direta, com trocas de mensagens de celular e encontros privados. Em 2010, pouco depois do início desta relação, Temer teria pedido dinheiro para campanha. “[O presidente] não é um cara cerimonioso com dinheiro”, afirmou.
Josley conta que os pedidos de Temer eram sempre ligados a favores pessoais. E que ele não explicava a razão dos pedidos.
“Tem políticos que acreditam que, pelo simples fato do cargo que ele está ocupando, já o habilita a você ficar devendo favores a ele. Já o habilita a pedir algo a você de maneira que seja quase uma obrigação você fazer. Temer é assim”, disse.
O empresário confirma o empréstimo de um jato para uma viagem particular de Temer e a briga por dinheiro dentro do PMDB na campanha de 2014, relatada por Ricardo Saud, empresário da JBS e que também colabora com delações premiadas no âmbito da Operação Lava Jato.
“O PT mandou dar um dinheiro para os senadores do PMDB. Acho que R$ 35 milhões. O Temer e o Eduardo descobriram e deu uma briga danada”, relembra.
Segundo o empresário, os peemedebistas pediram, após a celeuma, R$ 15 milhões. “Demos o dinheiro”, disse Joesley, afirmando que foi aí que Temer voltou à presidência do PMDB.
Relação de Michel Temer com Eduardo Cunha
De acordo com Joesley, Cunha se referia a Temer como seu superior hierárquico. “Tudo que o Eduardo conseguia resolver sozinho, ele resolvia. Quando ficava difícil, levava para o Temer. Essa era a hierarquia”. O empresário aponta, porém, Lucio Funaro como o primeiro a participar das negociações. “Funcionava assim: primeiro vinha o Lúcio. O que ele não consegui resolver ele pedia para o Eduardo. Se o Eduardo não conseguia resolver, envolvia o Michel”.
Quando se tratava de acertos de “esquema mais estrutural”, Temer pedia para falar com Cunha. De acordo com Joesley, Temer se envolvia diretamente quando se tratava de pequenos favores pessoais ou “em disputas internas, como a de 2014”.
O empresário afirma que o grupo tinha influência “no FI-FGTS, na Caixa, na Agricultura, todos órgãos onde tínhamos interesses”, e que temia que eles “encampassem” o Ministério da Agricultura.
Quando Cunha foi eleito presidente da Câmara dos Deputados, os “achaques” ficaram mais constantes. O empresário relata pedidos de propina do peemedebista em troca de “abafamentos” de CPIs que pudessem ser prejudiciais ao empresário. Josley disse, contudo, que não pagava esses achaques.
“Eduardo sempre deixava claro que o fortalecimento dele era o fortalecimento do grupo da Câmara e do próprio Michel”, disse.
“Mais perigosa organização criminosa desse país. Liderada pelo presidente”
Joesley, ao apontar Temer como o “chefe da quadrilha”, cita como integrantes da “organização criminosa” os peemedebistas Eduardo Cunha, Eduardo Henrique Alves (ambos já presos), Geddel Vieira Lima e Moreira Franco.
“Quem não está preso está hoje no Planalto. Essa turma é muita perigosa. Não pode brigar com eles. Nunca tive coragem de brigar com eles. Esse grupo é o de mais difícil convívio que já tive na minha vida”. Para Joesley, “eles não têm limites”.
Silêncio de Cunha e Funaro na cadeia
Na entrevista, Joesley também detalha como virou “refém de dois presidiários”, referindo-se aos pagamentos que realizou “em dinheiro vivo” a mensageiros de Eduardo Cunha e Lucio Funaro, para que estes não delatassem os esquemas de corrupção que os envolviam e que também implicavam o empresário.
“O presidente estava preocupado. Quem estava incumbido de manter Eduardo e Lúcio calmos era eu”, diz Joesley, ressaltando, ainda, que era Geddel Vieira Lima quem atuava em nome de Temer para garantir que esse “sistema” fosse mantido.
“Depois que o Eduardo foi preso, mantive a interlocução desses assuntos via Geddel. O presidente sabia de tudo. Eu informava o presidente por meio do Geddel”, afirma.
Crise
A delação premiada de Joesley Batista e outros executivos da JBS detonou a maior crise do governo Temer desde que o presidente assumiu o cargo. Joesley gravou uma conversa com o presidente no Palácio do Jaburu, em março deste ano, e entregou o áudio para a Procuradoria-Geral da República. Na conversa, ele fala sobre o suborno a agentes do poder judiciário, cita questões no BNDES e relata que “estou bem com o Eduardo”, o que a PGR entendeu como sendo uma sinalização de que o empresário continuava pagando mesadas a Cunha, com aval do presidente, para evitar uma delação do ex-deputado.
Temer nega que soubesse de qualquer pagamento a Cunha e Funaro, alega que o áudio foi editado e diz que foi alvo de uma armação de Joesley, que estava em vias de assinar o acordo com a PGR.
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