Flávio Dino
No último
fim de semana, participei do Seminário sobre Comunicação e Mídias Livres,
realizado em São Luís sob a coordenação do site Maranhão da Gente. Aprendi
muito com as experiências enriquecedoras ali compartilhadas. O professor Chico
Gonçalves, secretário de Cultura de São Luís, foi um dos participantes e deu
uma aula a todos que puderam estar presentes ou assistir pela internet. Lembrou
que o quadro de domínio oligárquico que vivemos em nosso estado asfixia a
política e a economia, mas, principalmente, as perspectivas de vida de milhões
de maranhenses.
No campo
político, não há espaços de participação real abertos nas estruturas da máquina
pública, em que os maranhenses possam se inserir para tomar decisões sobre o
rumo do nosso estado. No campo econômico, a crônica ausência de investimentos
públicos em atividades que gerem renda para os mais pobres atravanca o
desenvolvimento de nosso estado. A propósito, na última semana, o grupo que
controla o governo tentou comemorar nossa melhora de último para penúltimo
lugar no índice nacional de PIB per capta (riqueza por pessoa). Seria cômico,
não fosse trágico, ter de comemorar que o maranhense está R$ 17 “mais
rico” do que o último colocado.
Nesse
ambiente cheio de vícios, quem mais sofre são os jovens maranhenses, que se
veem sem perspectivas reais de desenvolvimento de suas carreiras profissionais
e de concretização de suas ideias. Com a política fechada no mesmo grupo, que
tudo quer dominar e a economia amarrada, milhares de jovens maranhenses ficam
sem perspectivas de desenvolvimento pessoal.
Há sempre
os que tentam “normalizar” o caos. Afirmar que a situação é essa mesma, “sempre
foi assim” e que não haveria solução. É a “retórica da perversidade”, como bem
explicou o professor Chico Gonçalves durante o seminário. No Maranhão, emana do
chefe da oligarquia o espantoso esforço de disseminar falsos argumentos e
versões fantasiosas da história, com o único objetivo de justificar o absurdo
mando de 50 anos, ao custo da pobreza do nosso povo.
Penso
que, nesse cenário, a tecnologia tem um potencial libertador, na medida em que
cria o contraponto para que o jovem se posicione e possa expressar sua visão de
mundo. Já tem sido assim em tantas cidades do nosso Maranhão, em que centenas
de blogueiros vêm criando espaços de contestação aos poderes dominantes.
Infelizmente, sofrem constantemente a perseguição dos que se julgam donos do
poder.
Por isso,
a ação do governo estadual é decisiva. Em primeiro lugar, não perseguindo
jornalistas, radialistas, blogueiros – banindo a lamentável censura instalada
oficialmente pela Secretaria de Comunicação do Estado. Em segundo lugar,
democratizando a aplicação de verbas de publicidade do governo estadual, que
hoje atendem de forma desproporcional à empresa da mesma família que controla o
governo do Maranhão, num caso vergonhoso de patrimonialismo. E, por fim,
aumentando o acesso da população maranhense à internet, já que o acesso à rede
mundial de computadores passou a ser um direito básico de acesso à informação.
Ao criar
esse novo ambiente digital, com acesso amplo e liberdade de expressão,
poderemos investir em ações que deem poder real de decisão aos cidadãos. É o
caso da experiência que nos foi relatada durante o seminário por Fabrício
Solagna, do Gabinete Digital do Governo do Rio Grande do Sul. Assim que tomou
posse, o governador Tarso Genro montou uma equipe, em seu gabinete, para
dialogar com a população por meio da internet. Com a ferramenta, os cidadãos
gaúchos podem fazer perguntas que são respondidas diretamente pelo governador.
Mas não
foi só o canal de comunicação governante-população que foi facilitado. O
Gabinete Digital propiciou formas amplas de participação, como a maior consulta
pública já realizada, sobre a política de pedágios no Rio Grande do Sul. Os
cidadãos puderam dar sua opinião pela internet a respeito de um tema importante
para o estado, contribuindo para encontrar a melhor solução.
A
utilização intensiva da tecnologia é um caminho essencial para a democratização
do conhecimento, da riqueza e do poder – tarefas republicanas que sucederão à
derrota eleitoral desse sistema perverso que escraviza o Maranhão. A internet
facilita o acesso ao conhecimento disponível e, se os governos inventarem
formas criativas como o Gabinete Digital, permite que também facilite o acesso
às instâncias de decisão e amplie os processos de participação popular. Assim,
poderemos construir um Maranhão de todos nós, em que todos possamos decidir
juntos, num regime de liberdade, diálogo e igualdade.
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