O blog registra com profundo pesar a morte do jornalista Udes Cruz, meu amigo desde que ingressei na profissão em 1985 e uma das figuras mais humanas que conheci nesta cidade. Fui me despedi dele no cemitério na tarde de sábado (04) e lembrei de sua importância para a mídia alternativa do Estado.
Homem de personalidade forte, que não levava desafora para casa, Udes tinha um coração enorme, sempre pronto a ajudar os amigos de classe, naquilo que estava ao seu alcance.
Não lembro se existe na imprensa maranhense alguém que o conheça e não tenha um carinho especial pelo “nojento”, como nós o tratávamos carinhosamente quando o encontrávamos em alguma solenidade.
Udes fez a viagem que um dia todos iremos fazer, mas nos deixou um exemplo de perseverança. Lutou como um bravo guerreiro da comunicação para colocar e manter em circulação a marca “Atos e Fatos”, mesmo em tempos difíceis.
Jornalista conhecedor profundo da política local, Udes, certa vez, fez o então deputado federal Epitácio Cafeteira (1986) perder a linha ao apresentar na capa da Revista Atos e Fatos uma charge onde Cafeteira, vestido de noiva, recebia a aliança de Sarney e dizia “sim”.
Não pretendo relembrar história, apenas situar aqueles não o conheceram da importância de Udes Cruz para a mídia alternativa. Não fosse a Revista Atos e Fatos, o maranhense iria considerar a coisa mais natural do mundo dois adversários que viviam se engalfinhando, de uma hora para outra, estarem unidos na aliança que levaria Cafeteira ao governo em 1987/1990.
Foi a única publicação que ousou gozar da postura de Cafeteira, um político do MDB (Movimento Democrático Brasileiro, que deu origem ao PMDB e outros partidos), eterno rival de Sarney (PDS). Os jornais de grande circulação, rádios e televisões aplaudiam a aliança entre os rivais.
Consultado pelos caciques do MDB, Cafeteira aceitou Sarney como vice de Tancredo Neves na chapa eleita no Congresso Nacional, que daria início à chamada Nova República. Com a morte de Tancredo, Sarney assumiu a Presidência. E ai veio a recompensa. Já presidente, Sarney mobilizou as suas máquinas eleitorais para eleger Cafeteira.
Os dois grupos praticamente o isolaram no Governo Cafeteira, mas nem por isso a revista deixou de ir às bancas.
A circulação diária do jornal Atos e Fatos é outro exemplo de bravura e compromisso com a comunicação. Com ele, criou-se mais um espaço na mídia impressa.
Meu amigo cumpriu com dignidade sua passagem aqui entre nós, combateu o bom combate sem nunca ter se acovardado e nos deixa a lição de que nunca se deve desistir de um sonho, ainda que, para alguns possa parecer irreal.
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Jorge,
Permita-me utilizar seu blog para manifestar meu profundo pesar pelo falecimento de Udes Cruz – o "nêgo véio", como o tratava há anos. Conheci-o por volta de 1981, quando, em companhia de Enoc Vieira, ajudava na construção da candidatura de Luiz Rocha ao Governo do Estado. Mais tarde, já consolidada a candidatura, e eu na coordenação da campanha, o convidei e a Ruizinho Barbosa, Rosinha e Zé Salim para juntos, produzirmos notinhas favoráveis a Luiz que eram plantadas nos jornais da cidade, mesmo naqueles de adversários como era o caso do Jornal de Hoje de João Castelo. Tempos depois, já no governo, o apoiava nos seus projetos jornalisticos. Quando presidi a Copema, o convidei para ser meu assessor de imprensa, quando prestou um excelente trabalho. Guardo dele a lembrança de um profissional correto, de um grande faro para os fatos politicos, cuja analise quase sempre correspondia a realidade. Udes Cruz era um dos bons que podia ainda permanecer por mais tempo entre nós. Mas como ir de encontro aos desígnos de Deus ? Vai fazer falta. Até breve, amigo! Milton Calado