Editorial – Jornal Pequeno
Sarney se
foi. Em meio ao ruído das vaias que se acostumou a ouvir no Brasil inteiro, um
dos principais líderes civis da ditadura militar que envergonhou o país e
sitiou a democracia anunciou que está deixando a vida pública. Não será mais
candidato, provavelmente porque a idade não permite ou as vaias que ameaçam a sua
reeleição não deixam.
Talvez que
isso represente muito para o Brasil. O Brasil que combateu a ditadura, o Brasil
que combateu a corrupção, o Brasil que lutou pela liberdade, que pagou caro com
a tortura, o Brasil que alcançou a democracia e se libertou. Mas o que
representa, afinal, para o Maranhão? Sarney não será mais senador, mas sua
herança de manipulação das instituições públicas, de confisco dos mais lídimos
direitos de sucessivas gerações permanecerá nesse Estado. Golpes como o da
Refinaria Premium, abuso de poder político e econômico, soterramento de
lideranças em ascensão ainda estão em voga. Toda a prática vivenciada durante
quase 50 anos de um modelo político concentrador permanecerá viva nas mãos de
seus herdeiros políticos.
O Maranhão,
símbolo e última cidadela do coronelismo nacional e território da última
oligarquia sobrevivente no país, não encontrará a paz facilmente. Os prefeitos,
os deputados, os vereadores, senadores do Maranhão aprenderam a fazer política
seguindo a cartilha de Sarney. E nessa cartilha os fins justificam os meios.
Uma concepção ideológica centrada no poder pelo poder, que não conseguiu vencer
o analfabetismo, que agravou a pobreza, patrocinou a grilagem e a especulação
imobiliária da terra, que privilegiou as elites em detrimento de qualquer
esforço social, não será modificada de um dia para o outro. Muita coisa da vida
pública apodreceu nestes quase 50 anos.
Até o modus
operandi de Sarney pode ser identificado na eleição que acontecerá no
Maranhão ainda este ano. E está aí o Fundo Estadual de Apoio ao Desenvolvimento
dos Municípios do Maranhão, para confirmar que, concorrendo ou não a um
mandato, Sarney mantém intocável o modelo político que dita as regras
eleitorais e outras regras políticas nesse Estado. Com este Fundo, a oposição
pode ter que enfrentar os efeitos devastadores de uma imensa soma de recursos
sendo despejada nas contas das prefeituras.
De modos que
o alívio do Brasil com a saída de Sarney da vida pública não servirá ao
Maranhão de imediato. Os tentáculos do sarneisismo se solidificaram a tal
ponto nesse Estado, que, provavelmente, mesmo na possibilidade da oposição
vencer este pleito eleitoral, levará algum tempo até que o Maranhão possa ser
livre. Livre de um modelo político concebido para se eternizar, da mesma forma
que foram concebidos todos os regimes ditatoriais. Não será fácil se livrar
dessa herança.
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