*Por Paulo Matos
O Maranhão, com sua rica tapeçaria cultural, é resultado da confluência de diversos povos que, ao longo dos séculos, aqui chegaram e deixaram suas marcas indeléveis. Entre esses povos, destaca-se a presença dos açorianos, que desembarcaram em terras maranhenses no século XVII, trazendo consigo tradições, saberes e costumes que contribuíram significativamente para a formação da identidade do nosso estado.
A chegada dos açorianos ao Maranhão não foi um evento isolado, mas parte de um processo mais amplo de povoamento promovido pelo Império Português. Vindos de ilhas marcadas pela resiliência frente aos desafios do Atlântico, os açorianos encontraram no Maranhão um território fértil para reconstruir suas vidas, interagindo com as populações indígenas locais, com africanos trazidos pelo tráfico transatlântico e com outros grupos europeus. Dessa mistura surgiu um povo caracterizado pela diversidade, pela hospitalidade e pela alegria — traços que definem o Maranhão até hoje.
O legado açoriano é visível em diversos aspectos da nossa cultura. Na arquitetura, observa-se a influência no traçado rural e em elementos característicos de algumas construções históricas. Na culinária, sabores e técnicas trazidas do arquipélago se misturaram aos ingredientes locais, criando pratos que hoje fazem parte da nossa identidade gastronômica. Na religiosidade, tradições e festas populares carregam símbolos e rituais que remontam às ilhas dos Açores, com destaque para o Divino Espírito Santo.
Um dos nomes mais emblemáticos desse legado é o do açoriano Simão Estácio da Silveira, figura central na história política de São Luís. Com notável espírito de liderança , ele foi o primeiro presidente da Câmara do Senado da cidade, sendo responsável por estabelecer as bases da municipalidade. Seu papel foi fundamental na organização das instituições que deram início à gestão pública local.
Reconhecer e valorizar essa contribuição é, portanto, um ato de justiça histórica e de preservação da nossa memória coletiva. Nesse sentido, a criação da Praça dos Açores, no coração do centro histórico de São Luís, representa mais do que uma homenagem; é um símbolo de pertencimento e de gratidão.
Esse importante marco só se tornou possível graças à sensibilidade do governador Carlos Brandão, que compreendeu a profundidade dessa relação histórica e determinou a construção da praça, reafirmando o compromisso com a valorização da nossa identidade multicultural.
Destacamos também o papel fundamental do ex-vereador Chico Carvalho, autor da proposta que denominou o logradouro como Praça dos Açores na Câmara Municipal de São Luís. Sua iniciativa foi o primeiro passo oficial para o reconhecimento dessa herança no espaço urbano da cidade.
O projeto da praça ganhou forma graças à visão do presidente da Agência Executiva Metropolitana (AGEM), Leônidas Araújo , que idealizou o espaço em parceria com historiadores e com a incansável atuação da Casa dos Açores do Maranhão(CAMAR), instituição que sempre lutou pela concretização desse sonho. A colaboração entre essas instituições e lideranças foi essencial para transformar a homenagem em um espaço real de convivência e memória.
A Praça dos Açores será, portanto, um ponto de encontro para maranhenses e visitantes, um local de celebração da diversidade e de contemplação da beleza da nossa cidade, considerada um dos cartões-postais mais bonitos do Brasil.
Celebrar a herança açoriana é, ao mesmo tempo, reconhecer que o Maranhão é resultado de múltiplos encontros culturais. Somos fruto da interação de povos, línguas, crenças e tradições que, juntos, construíram um estado singular, onde o passado e o presente se entrelaçam, criando uma identidade forte, vibrante e acolhedora.
Que a Praça dos Açores nos inspire a valorizar ainda mais nossa história, a respeitar nossa diversidade e a fortalecer os laços que nos unem enquanto maranhenses.
Paulo Matos
Historiador
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