A sessão que livrou de cassação a deputada Jaqueline Roriz é a imagem mais eloquente de um ano em que parlamentares preferiram salvar-se uns aos outros
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deputada Jaqueline Roriz: simbolo de impunidade |
Por conta de imagens semelhantes, Arruda chegou a ser preso e teve de renunciar para não ser cassado. O mesmo aconteceu com outros beneficiários do mensalão de Brasília. Só não aconteceu com Jaqueline antes das eleições de 2010 porque – por razões que só mesmo Durval Barbosa, o ex-operador, delator e autor dos vídeos, pode explicar – o vídeo com Jaqueline, ao contrário do que aconteceu com os demais personagens, só foi aparecer depois que ela tinha sido eleita deputada federal. A clareza e a contundência das imagens, porém, eram as mesmas.
Corporativismo histórico
Para o cientista político Leonardo Barreto, professor da Universidade de Brasília (UnB), a conduta da autoproteção não é novidade entre os congressistas. “O corporativismo existe no Congresso, não há dúvida nenhuma disso. E não estamos fazendo avaliação em cima de um caso apenas. Historicamente, já houve um conjunto de outras circunstâncias em que prevaleceu essa força no julgamento de outros parlamentares”, diz ele. Para Barreto, o caso de Jaqueline Roriz foi uma omissão grave. “Prevaleceu uma tese estapafúrdia de que atos anteriores ao mandato não deveriam interferir na permanência dela na Casa. O Congresso se acovardou perante essa questão”, avalia ele.
Os deputados perdoaram Jaqueline Roriz em quase que absoluto silêncio. Longe dos microfones, porém, muitos admitiam a razão. Julgaram que a condenação de Jaqueline abriria um precedente para outros casos de delitos cometidos antes do mandato. Exemplos chegaram a ser citados. Assim, numa clara manifestação de autoproteção, a filha do ex-governador do Distrito Federal Joaquim Roriz foi poupada.
Jaqueline Roriz não foi o único caso de deputado que se livrou de processo pela ação dos seus colegas.
Sem fazer alarde, a Mesa da Câmara livrou o deputado Jair Bolsonaro (PP-RJ) de responder a processo diante da acusação de racismo e homofobia. No primeiro semestre do ano, Bolsonaro participou do quadro “O Povo quer saber”, do programa humorístico CQC, da TV Bandeirantes. No programa, ele agrediu a cantora Preta Gil, que perguntou a ele o que ele faria caso seu filho namorasse uma mulher negra. “Preta, não vou discutir promiscuidade com quem quer que seja. Eu não corro esse risco porque meus filhos foram muito bem educados e não viveram em ambiente como lamentavelmente é o teu”. Bolsonaro disse ter entendido que Preta lhe perguntava o que ele faria se um filho fosse homossexual.
Não foi a única confusão em que se meteu Bolsonaro durante o ano. Ele ainda teve uma grossa discussão com a ex-senadora Marinor Brito (que cede definitivamente seu lugar no Senado hoje (28) para Jader Barbalho) e, no final do ano, chegou num discurso a fazer
insinuação de homossexualidade contra a presidenta Dilma Rousseff.
Para Leonardo Barreto, há aspectos defensáveis no caso de Bolsonaro. “No caso do Bolsonaro, alegou-se que havia ali uma preservação, digamos, da liberdade de expressão. É uma tese – e não estou dizendo que concordo ou não concordo [com o discurso do deputado] – que faz sentido. A priori, a imunidade parlamentar existe pra isso, pra permitir que ele fale exatamente o que ele queira falar, sem sofrer qualquer constrangimento. É um mecanismo de garantia de liberdades que existe em todo Parlamento livre do mundo.”
Caixinha é normal
A naturalidade com que Marco Maia defendeu a caixinha do PSC mereceu comentários do cientista político Carlos Novaes numa edição do Jornal da Cultura, da TV Cultura, no dia 12 de dezembro. “Ele realmente acredita nisso [que é algo banal um partido político obrigar seus funcionários a pagar 5% de caixinha]. Ele acha que o partido é dono de uma fatia do Estado”.
“É possível que o próprio presidente da Câmara conheça outras práticas desse tipo, e talvez até dentro do próprio partido. Ele só não quis se comprometer”, emenda Leonardo Barreto. Para concluir, então: “É o famoso telhado de vidro.”
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