Por Cleber Lourenço
O Partido dos Trabalhadores (PT) do Maranhão decidiu testar os limites da aliança com o governador Carlos Brandão (sem partido). Em uma movimentação que repercutiu em Brasília e no Palácio dos Leões, 199 dos 204 presidentes municipais do partido assinaram uma carta em apoio à candidatura própria do vice-governador Felipe Camarão (PT) ao governo do Estado em 2026.
O gesto, que representa 98% de adesão da base partidária, aprofunda a crise entre Brandão e o PT, que já vinha se agravando desde o início do ano.
O documento foi divulgado no fim de semana e, apesar de defender a manutenção da unidade que garantiu expressiva vitória a Lula em 2022, escancara o distanciamento político entre o governador e a militância petista. O texto reafirma a necessidade de “continuidade das conquistas sociais e do fortalecimento de um projeto nacional comprometido com a democracia”, mas aponta Felipe Camarão como o nome mais apto a liderar esse projeto no estado.
Nos bastidores, a leitura é de que a decisão dos dirigentes representa um recado direto ao presidente Lula. Brandão esteve recentemente com o presidente em Brasília para discutir o cenário local e tentar conter a pressão crescente pela candidatura própria do PT. O governador tenta articular a sucessão com um nome de seu grupo familiar — seu sobrinho é apontado como opção —, movimento que foi recebido como uma tentativa de isolar o partido da disputa.
A mobilização em torno de Camarão é vista internamente como um contraponto a essa estratégia e um sinal de que o PT pretende recuperar protagonismo no Maranhão. Felipe Camarão, que ganhou projeção ao ocupar a Secretaria de Educação e depois a vice-governadoria, é considerado o nome natural do partido para encabeçar a chapa.
“O ideal seria a reunificação das forças progressistas, incluindo o governador Brandão, pra gente obter sucesso pleno no Estado. Mas se isso for impossível, vamos seguir em frente com Felipe Camarão”, afirmou Renato Meneses, presidente do PT em Caxias.
Para dirigentes petistas, o movimento também serve como um alerta ao Planalto: sem uma definição rápida sobre o papel de Brandão e o futuro da coligação, o partido corre o risco de repetir no estado o cenário de fragmentação que afetou alianças em 2022. Em conversas reservadas, lideranças locais dizem que a tentativa de Brandão de manter controle sobre o processo eleitoral, mesmo sem partido definido, está minando a confiança dos aliados.
A carta, assinada por quase toda a base do PT do estado, busca fazer com que o diretório estadual formalize sua posição nas próximas semanas. O gesto marca o início de uma disputa interna que promete se arrastar até o primeiro semestre de 2026 e já coloca em lados opostos dois grupos que, até então, sustentavam a força política petista no estado.
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