A representação do governo na Assembleia Legislativa nunca esteve tão apática na defesa dos interesses do Palácio dos Leões como se observa na presente legislatura. Especialistas em análises sobre o cenário político maranhense acreditam que por falta de argumentos para contestar as denúncias de corrupção que são levadas diariamente ao plenário, seus representantes simplesmente fazem de conta que não ouvem para não ter que responder questionamentos do tipo, qual o critério de dispensa de licitação na contratação dos 72 hospitais prometidos e não entregues à população dentro do prazo estabelecido.
Taí a Dona Vale ex-do-rio-Doce cacarejando seu último feito: a entrada em operação do navio Vale Brasil, “o maior mineraleiro do mundo”, com capacidade para transportar 400 mil toneladas de pedrinhas de ferro para a China.
Esse navio gigante começou a trabalhar na última semana de maio, em São Luís do Maranhão, sob as vistas de uma dezena de práticos de todo o Brasil e mais meia dúzia deles, vindos da China. Breve o bichão será visto no píer da Ponta de Tubarão, em Vitória.
Dizem as notícias que a Vale encomendou na Ásia mais uma dezena desses monstro de 362 metros de comprimento, 65 metros de largura e 56 metros de altura até o mastro.
Entre as vantagens da novidade, cita-se a redução de 35% na emissão de carbono por tonelada de minério transportada e a queda do custo do frete. Em outras palavras, a Vale vai lucrar mais gastando menos.
E dizer que há 40 e poucos anos o porto de Ponta de Tubarão foi concebido para receber supergraneleiros de 300 mil toneladas, garantindo glória eterna ao engenheiro Eliezer Batista, o chefão da Vale naquele tempo. Naquela época, acreditava-se que se havia chegado ao limite máximo no transporte de minério.
Passadas mais de quatro décadas, verifica-se que a galinha dos ovos de ferro continua ciscando no mesmo quadrinho. Pois ao encomendar uma frota de navios de 400 mil toneladas, a Vale dá mostras de que continua disposta a investir prioritariamente na exportação de minério. Como na época da sua fundação há 70 anos.
Se a atividade primária lhe dá uma lucratividade inigualável, por que mudaria o foco do negócio? Essa é a lógica da empresa privada orientada para remunerar seus acionistas.
Daí a pergunta atualíssima e ainda não respondida: por que uma empresa tão bem-sucedida troca o presidente que a elevou à condição de maior mineradora do mundo, tanto em volume de produção quanto em faturamento e lucros?
Até as montanhas mais recônditas de Minas Gerais fazem eco ao boato de que o presidente Roger Agnelli, homem originário do Bradesco (grande acionista da Vale), foi dispensado porque entrou em rota de atrito com a Presidência da República, já no fim do mandato de Lula.
Em sua primeira entrevista, o novo presidente Murilo Ferreira disse que a Vale está estudando a hipótese de exportar menos minério e fabricar mais aço. Ou, seja, “agregar valor”, expressão consagrada no mundo da economia. Para promover essa virada, precisaria investir alguns bilhões de dólares ao longo de vários anos.
Nos primeiros dias de junho, um diretor da Vale anunciou que a empresa está disposta a investir dois bilhões de dólares em siderúrgicas projetadas no Pará e no Ceará, mas como acionista minoritário. Sinal de que a gigante da mineração está começando a mudar sua rota de navegação. Em quanto tempo isso vai se concretizar?
Se a Vale vai atender ao pedido oficial, só o tempo dirá. Mas não há dúvida de que tudo isso é muito sério e muito engraçado ao mesmo tempo. Como se a galinha dos ovos de ferro estivesse sendo obrigada a uma reengenharia de produção, passando a entregar gemada, omelete e maionese em vez dos ovos de sempre.
Por: Geraldo Hasse [Jornalista e escritor]
Presidente se mostra satisfeita por Palocci ter dito em entrevista que ela não foi informada de detalhes sobre empresa
DE BRASÍLIA
DE SÃO PAULO
A presidente Dilma Rousseff vai consultar a opinião de seu antecessor, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, e de outros aliados antes de decidir se demite ou mantém o ministro Antonio Palocci na chefia da Casa Civil.
Lula chegou na sexta-feira ao Brasil, depois de uma viagem a Cuba e à Venezuela. Ele e Dilma tinham combinado conversar durante o fim de semana, algo que tem se tornado rotineiro.
No Palácio do Planalto, a avaliação geral é que as entrevistas de Palocci à Folha e ao “Jornal Nacional”, da TV Globo, foram dadas tarde demais. Por essa razão, o impacto seria insuficiente para debelar a crise política que se formou no governo nas últimas três semanas.
A Folha revelou em 15 de maio que Palocci multiplicou seu patrimônio em 20 vezes nos últimos quatro anos. Em 2010, ele faturou R$ 20 milhões com uma empresa de consultoria, a Projeto. O ministro se recusa a revelar a identidade de seus clientes e detalhes sobre os serviços que prestava.
Nas entrevistas concedidas anteontem, Palocci manteve a mesma estratégia. Reafirmou ter pagado todos os impostos e disse que nunca operou de maneira ilegal em favor de interesses privados junto ao governo.
Na noite de sexta-feira, Palocci conversou brevemente com a presidente sobre o conteúdo das entrevistas. Ontem, o ministro estava em São Paulo, onde vive.
A presidente ficou satisfeita com o fato de Palocci ter deixado claro na entrevista à Folha que ela não foi informada de detalhes sobre suas atividades como consultor de empresas. O temor do governo é que a crise política se alastre e passe a corroer a imagem de Dilma.
“Deveria ter feito isso [dado entrevistas] antes, talvez já teríamos virado essa página”, disse o secretário de Comunicação do PT, André Vargas (PR). Para ele, “a oposição é insaciável”.
Publicamente, aliados do Planalto tentaram sinalizar satisfação com as declarações de Palocci para não alimentar ainda mais a crise em torno das suspeitas sobre a atuação do ministro no mundo empresarial.
Alguns governistas tentaram manter as aparências. “Acho que as declarações foram convincentes e consistentes. Para mim não foi surpresa, pois sempre acreditei nas explicações dele”, afirmou o presidente nacional do PT, Rui Falcão.
O vice-presidente, Michel Temer (PMDB), que participou ontem de um evento do PMDB em São Paulo, afirmou que Palocci “foi muito eficiente” na entrevista.
Mas o peemedebista não quis se comprometer sobre o que vai acontecer. “Cada presidente da República dispõe de todos os cargos. Ela deve saber sobre o que tem que ser feito.”