PAULO GAMA
Folha de São Paulo
Os números finais divulgados pela Justiça Eleitoral mostram que as
construtoras encabeçaram a lista de maiores doadores das eleições deste
ano. Andrade Gutierrez, Queiroz Galvão, OAS e Camargo Corrêa foram os
quatro maiores financiadores privados da disputa. Juntas, investiram R$
197,2 milhões.
O quinto maior financiador é o braço da Vale na produção de fertilizantes, que doou outros R$ 29 milhões.
Essas empresas optaram majoritariamente por uma modalidade de doação que
impede a identificação do candidato beneficiado –as chamadas doações
ocultas.
Dos R$ 226,2 milhões investidos por elas, R$ 220,6 milhões –97% do
total– foram repassados às direções partidárias ou aos comitês
financeiros das siglas. Os recursos são transferidos posteriormente
pelos partidos aos candidatos, eliminando o vínculo entre as empresas e
os beneficiados pelas doações.
Três deles doaram apenas via partidos. A Andrade Gutierrez, maior
financiadora da disputa, investiu R$ 77 milhões –100% direcionado às
direções partidárias. Além dela, a Vale e a Queiroz Galvão optaram
exclusivamente por essa modalidade.
O PT foi o partido que mais se beneficiou delas. Recebeu R$ 63,6 milhões
das cinco empresas. O PMDB foi o segundo, com R$ 49,1 milhões, e o
PSDB, o terceiro, com R$ 34,9 milhões. Os três foram os partidos que
mais elegeram prefeitos e vereadores em 2012.
Questionados pela Folha, os financiadores não explicaram por que
optaram pela doação oculta nem disseram se influenciaram a decisão sobre
o candidato beneficiado.
O percentual oculto é maior que o de 2010, quando os cinco maiores
financiadores haviam repassado 74,5% de suas doações aos partidos ou
comitês. Estão na lista de maiores doadores das duas eleições a OAS, a
Camargo Corrêa e a Andrade Gutierrez.
No total, partidos e candidatos declararam ter arrecadado R$ 4,8
bilhões. Desconsiderando os recursos declarados duas vezes –recebidos
pelos partidos e repassado aos candidatos–, a eleição movimentou R$ 3,7
bilhões.
FINANCIAMENTO PÚBLICO
Cerca de 5% desse total foi financiado com recursos públicos, por meio
do Fundo Partidário –uma reserva mantida pela União distribuída entre
as legendas, proporcionalmente a seu tamanho no Congresso. Os partidos
declararam ter usado R$ 179,7 milhões do fundo para pagar despesas das
campanhas.
Quem mais se serviu de verbas públicas foi o PP, que gastou R$ 20,7
milhões. Na sequência vêm PSDB, com R$ 19,9 milhões, e PMDB e PSB, R$
18,8 milhões cada um.
Individualmente, quem mais recebeu foi ACM Neto, eleito pelo DEM para a Prefeitura de Salvador.
OUTRO LADO
Questionadas pela Folha, as cinco empresas não disseram por que
optaram pelas doações que omitem o vínculo com o beneficiado. A Andrade
Gutierrez e a OAS disseram que a doação via partido é prevista pela Lei
Eleitoral. A Queiroz Galvão e a Vale Fertilizantes não responderam. A
Camargo Corrêa não quis se manifestar.
Colaborou MARCELO SOARES, de São Paulo
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