Editorial do Jornal Pequeno
Sem foro privilegiado, a ex-governadora Roseana Sarney começa a
ser investigada pelos procuradores e delegados encarregados da Operação
Lava-Jato. O Maranhão está no centro de um furacão policial que apura o maior
escândalo de corrupção da história do Brasil. Não está solitária a
ex-governadora, pois somam-se a ela os mais de oitenta políticos e autoridades
citados nas delações premiadas de funcionários públicos, executivos de grandes
empreiteiras e doleiros incursos no processo judicial que corre em Curitiba.
A prerrogativa de função, na verdade um artifício da impunidade
destinado a burlar o julgamento da verdadeira Justiça, não está mais ao alcance
da governante que deixou o cargo e a vida pública logo assim que estourou o
escândalo da UTC-Constran. Sabe-se, agora, uma impressionante “comissão” de R$
10 milhões viajou milhares de quilômetros em lombos de mulas para,
provavelmente, ser repartida entre um doleiro e funcionários do alto escalão do
governo Roseana Sarney, sendo ela uma das principais suspeitas nas conclusões
da Polícia Federal.
É de se imaginar o que possa ter acontecido no Palácio dos Leões
nesses anos todos, pois ao estrebuchar dos que ameaçam o doleiro na cadeia com
a Justiça, fica a imagem de um governo resvalando no submundo dos trambiques,
da desonestidade, da falta de respeito e da insensatez. E o Maranhão, no caso,
é apenas um exemplo do que se soube estar acontecendo no Brasil depois de
descoberta a corrosiva organização criminosa que agia na Petrobrás. E ninguém
se espante se a Operação Lava-Jato encontrar tesouros desaparecidos nos
canteiros da malfadada Refinaria Premium, a bomba de petróleo de Bacabeira que
jamais aconteceu.
Em algum momento o legislador brasileiro, driblando os
princípios da presunção de inocência, criou os mais intransponíveis artifícios
jurídicos para tornar impune o enriquecimento ilícito. Um deles, sem dúvida, é
o foro privilegiado, que retira da sociedade maculada o direito de julgar quem
transgride suas leis. Sem essa prerrogativa, Roseana Sarney e outros tantos
estão ao alcance da Justiça do Maranhão.
Não se tome esse fato, porém, à luz das disputas paroquiais ou
apenas como sobejos de nossa vergonha e de nossa revolta. O que aconteceu aqui
vem acontecendo, há muito tempo, no país inteiro. Há que se bradar com todas as
forças contra o poder da corrupção, criar no povo brasileiro uma nova
consciência política, antes que o oportuno destrua a democracia e os tiranos
mais uma vez ponham fim à nossa liberdade. É, afinal, extenuante a sensação de
que quadrilheiros, propineiros e doleiros governam este país.
Uma primeira lição é não mais permitir que ninguém,
sustentando-se em recursos, embargos em artifícios, fique fora do alcance da
Justiça. Nem ela mesma. A permissividade com que agem essas quadrilhas, a
facilidade com que corrompem e se corrompe o poder público, bastam para fazer
entender que o Brasil está sendo vítima de corrosão institucional.
E quando as instituições apodrecem a sociedade não tem mais onde
se socorrer.
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